Yoko Ono convoca mulheres à luta em exposição no Instituto Tomie Ohtake


Com um chamado para que mulheres revelem experiências dolorosas, Yoko Ono faz de sua exposição no Instituto Tomie Ohtake, em São Paulo, uma extensão da militância feminista que exerce desde a década de 60. Na mostra O Céu Ainda É Azul, Você Sabe..., a artista incitou brasileiras vítimas de violência a enviar relatos junto a uma foto que mostrasse somente seus olhos, para compor a instalação Emergir.

A ideia é fazer o público sentir o horror da violência de gênero narrado em primeira pessoa. A peça é mais uma das muitas ações contundentes que Yoko realizou ao longo de seus 84 anos, que inclui manifestos como “Woman Power”, de 1973, música na qual brada que “uma nação de mulheres está chegando”; ou o controverso texto “The Feminization of Society”, escrito em 1972, em que afirma ser o lesbianismo uma “revolução contemporânea por meio da liberdade sexual”; ou ainda ao participar, mesmo numa cadeira de rodas, da Women’s March, que levou milhares de americanas às ruas em janeiro para protestar contra declarações machistas do presidente Donald Trump. Mas reduzir Yoko ao feminismo é pouco.

A japonesa é uma das principais criadoras ligadas a movimentos artísticos de vanguarda, como o norte-americano Fluxus. Uma performer provocadora muito antes de a sérvia Marina Abramovic transformar essa difícil representação em arte pop. A retrospectiva paulistana demonstra isso ao reunir obras que só existem com a participação dos visitantes, convidados a seguir “instruções” em trabalhos como Peça de Toque, de 1963, que sugere: “Toquem uns aos outros”. No total, são 65 criações que instigam desde ações físicas a experiências mentais que revelam a complexa personalidade de uma revolucionária que desafiou padrões. Em cartaz de 2 de abril a 28 de maio.
Fonte: Marie Claire